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sábado, 7 de janeiro de 2012

Texto: E viva a modernidade!


-Não vai sair, Lila?
-Não estou a fim, vó. - respondeu, largada no sofá, ainda de camisola, lembrando da festa da noite anterior.
-No meu tempo, aos domingos a gente ia à missa. Era sagrado. - disse a avó, mexendo as agulhas de tricô. - Na igreja, as pessoas se encontravam. - completou.
-Hoje, a gente vai ao McDonald's. - disse a adolescente, pensativa. Só depois percebeu quanto tinha sido irônica. Mas, antes que pudesse consertar, a avó observou:
-Aquele tal restaurante que serve lanche com gosto de isopor embrulhado em papelão? - Lila olhou a avó abismada. Como ela sabia? - Sua avó não é tão burra. Já comi lá uma vez, com sua tia, da outra vez que vim pra cá. Que comidinha ruim! Não faz falta nenhuma na minha cidade.
 Lila deu uma risada.
... tem tudo o mesmo gosto. Mas até que eu gosto, a gente se acostuma. Não é como seu filé à parmegiana, vó...
-Por que não vai passear no shopping, Lila? Sua mãe me disse que você adora. Que fica lá passeando com as amigas e paquerando os meninos...
-Vó?!
-Ora, no meu tempo era quase a mesma coisa. Só que numa pracinha.
-Pelo menos vocês tinham ar puro! - Lila mexeu seu cabelo, enojada com o cheiro de cigarro impregnado.
-E namorado? - perguntou a avó com ares de sapeca.
-Você já tem um?
-Hoje em dia ninguém namora. Só fica.
-Fica o quê?
-Fica, vó. Fica... fica um dia com um, depois fica com outro... - respondeu a garota, meio atrapalhada.
-Fica fazendo o quê?
Lila corou.
-Ah, vó, a gente dá uns beijos. 
-Ah, meu anjo, no meu tempo a gente também roubava uns. - confidenciou a avó, pondo o tricó no colo. - É o que a gente chamava de "namorico". Paqueras antigas que, depois, com o tempo, ficavam sérias, sabe?
-Não vó. Ficar não é bem assim. Ficar... Você pode ficar com um cara que acabou de conhecer.
-Sem gostar?!
-Não. Quando a gente gosta da pessoa, claro.
-Mas como sabe se gosta, se não conhece, Lila?
-Ah, vó, gostando, assim, só de falar um "oi".
-Nossa! - exclamou a avó. - Deve ser pior que o sanduíche daquele lugar, como chama mesmo?
-Mc Donald's. É isso aí, vó, tipo um Big Mac. - comparou Lila, supresa. - A gente escolhe logo, come rápido e depois se pergunta se não tinha tudo o mesmo gosto.
-Ah, essa juventude... - fez a avó, balançando a cabeça. - Com toda essa modernidade, eu ainda prefiro as coisas de antigamente, uma comida caseira, com tudo fresquinho. - e deu uma risadinha.      
, vai ver que é isso. - disse Lila para si mesma - Podemos escolher entre vários Mc esponjas descartáveis, número 1, 2, 3 ou 4... mas, no fundo, sonhamos é com um tradicional arroz com feijão.
A avó se levantou num impulso, pondo o tricô de lado.
-Pronto, querida, já sei o que vamos fazer! Levanta daí e toma um banho, porque vou preparar um belo almoço para nós duas. Com comida à minha moda!
Texto: Valéria Piassa Polizzi
Publicado em: Revista Atrevida (ANO XII Nº132)

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